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Shopping Mueller contrata refugiados em Curitiba

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Venezuelanos chegaram à capital paranaense trazidos por programa de interiorização e participaram do recrutamento com apoio da Cáritas Paraná


Por: Yana Lima

Foi por meio de uma reportagem em um jornal local que o setor de administração do Shopping Mueller, de Curitiba, soube da chegada de venezuelanos na cidade. Os refugiados foram levados à capital paranaense através da Operação Acolhida – realizada pelo Governo Federal, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e organizações da sociedade civil. A matéria sensibilizou a equipe ao narrar as dificuldades das pessoas em se inserir no mercado de trabalho brasileiro, a angústia pelos familiares que ficaram no país de origem e a dura adaptação após uma migração forçada. De maneira espontânea e sem muito planejamento prévio, o Shopping Mueller decidiu oferecer postos de trabalho aos recém-chegados.


“Vendo as dificuldades e necessidades da permanência dessas pessoas aqui no país, resolvemos abrir uma seleção de vagas específicas para refugiados. Entendemos que, além de estarmos fazendo um bem para as famílias, é uma ótima experiência de troca para nossos funcionários. Mais do que ofertar uma vaga, queremos dar esperança”, ressaltou Daniela Baruch, superintendente do shopping.


Após decisão de apoiar a causa do refúgio com oferta de trabalho, a equipe do Shopping Mueller buscou suporte para encontrar essas pessoas e conduzir as contratações. Visitaram o Sistema Nacional de Empregos (Sine) do Paraná para abrir três vagas. Lá, foram orientados a procurar apoio da Cáritas Paraná, instituição que participou da acolhida de migrantes e que abrigava as famílias em Curitiba.


Apesar de terem aberto três postos de trabalho, a equipe do Shopping Mueller efetivou, em novembro de 2018, a contratação de quatro venezuelanos: três para vagas de ajudante de serviços gerais e outra pessoa para atendimento. Três funcionárias são mulheres formadas em Psicologia, Pedagogia e Marketing e um é homem com ensino médio completo.


A iniciativa foi divulgada também aos lojistas, que prontamente se interessaram e estenderam as oportunidades em aberto nos estabelecimentos aos refugiados. O clima de empatia e cooperação para acolhimento dos novos funcionários contagiou as equipes do shopping.


“Nossos funcionários se organizaram espontaneamente para recolher doações, ajudar a montar as casas dos novos colegas. Juntaram-se para comprar geladeira, roupa de criança. Vê-los se mobilizando só reforçou nossa certeza de que as contratações seriam boas também internamente. Queremos criar um ambiente de harmonia e desenvolvimento das pessoas. Vemos que estamos no caminho certo”, comenta Daniela.


O setor administrativo do centro comercial estava alerta que poderia haver dificuldades iniciais com diferenças culturais e de língua. Entretanto, a equipe relata que nada disso causou problemas e que a convivência com os novos colegas de trabalho correu bem. Os planos futuros são continuar com as contratações para as mais variadas áreas da empresa.


“Encontramos um povo alegre, motivado, feliz e de fácil entendimento. Os colaboradores proporcionaram um ambiente familiar de cooperação e apoio nas dificuldades dos novos colegas. Queremos propagar no shopping a integração, diversidade e humanidade que a nossa cultura proporciona”, conta Tiago Torres dos Santos, coordenador de Recursos Humanos do Shopping Mueller.



A vida a sete mil quilômetros de distância


Ivette Karina Sala Depablos, 44 anos, saiu de San Cristóbal, cidade venezuelana na fronteira com a Colômbia, em maio de 2018, rumo a Pacaraima, no estado de Roraima. Licenciada em Educação, a solicitante de refúgio veio com o filho e no primeiro mês em terras brasileiras trabalhou vendendo mercadorias na rua. Quando soube da oportunidade de interiorização, se candidatou e em quinze dias estava de partida à Curitiba.


“Quando chegamos, fomos recebidos pela Cáritas Paraná, que nos colocou em contato com a equipe do Shopping Mueller. Emprego era a coisa mais importante para nós, mas além disso, os colegas nos ajudaram com doações de comida, roupas. Todo mundo colaborou com a gente. Com a indicação do shopping, meu marido conseguiu trabalho em uma das lojas. Nossa qualidade de vida melhorou muito e temos ajudado nossa família na Venezuela também”, conta Ivette.


Sua colega de trabalho e compatriota, Tainem Castillo, 32 anos, também fugiu para o Brasil com o esposo e duas filhas em busca de recomeçar a vida. Ela é formada em Publicidade e Marketing e ele em Psicologia. Estava grávida quando foram despejados de casa por conta da perseguição política sofrida pelo marido. Chegaram no Brasil em 2017 e viveram em Roraima por um ano. Emocionada, ela conta que uma vizinha sempre falava muito de Curitiba.


“Nossa vizinha em Boa Vista era curitibana. Começamos a pesquisar sobre a cidade e decidimos que viríamos pra cá. Vivemos em Manaus por uns meses para juntar dinheiro para a passagem. Chegamos aqui sem nada. Hoje o shopping me dá todo suporte, eles são bem compreensíveis com a minha situação. Estou me estabilizando e recebo muitos elogios pelo meu trabalho”, comenta.


As duas começarão a estudar no programa educativo oferecido pelo shopping para aprender português e conseguirem certificado de escolaridade brasileira. As aulas acontecem uma vez por semana, durante o período de trabalho. O Mueller cede três horas semanais da jornada e os funcionários complementam com uma hora para que possam se desenvolver.



Incentivo à educação como base do desenvolvimento profissional


Desde 2017, o Shopping Mueller desenvolve internamente com seus colaboradores o projeto educacional Alfabetizando e Derrubando Barreiras. O programa oferece aulas gratuitas às pessoas que não deram continuidade em seus estudos e para aqueles que não tiveram o acesso ao Ensino Fundamental e/ou Médio na idade apropriada.


A iniciativa ganhou vida em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI), que cedeu professores para que fossem ministradas aulas nas dependências do shopping. A prova de nivelamento foi aplicada pela Secretaria de Educação. O material didático e as aulas são oferecidas pelo Mueller sem custo aos colaboradores. O programa tem duração de 18 meses e, no término, todos os colaboradores recebem um certificado de conclusão referente ao grau de escolaridade cursado (Ensino Fundamental ou Médio). A primeira turma se forma em agosto e participará de uma formatura.


O projeto recebeu prata na categoria Gestão de Equipes, no Prêmio Abrasce 2018, considerado o mais importante do segmento de varejo.


“Sabemos que outros empreendimentos e negócios aqui de Curitiba se inspiram e querem adotar projetos como este nosso. Nessa hora não existe concorrência, existe uma corrente. O Shopping Mueller tem muito a agradecer à sociedade de Curitiba e por isso estamos sempre pensando em como fazer para retribuir”, conta a superintendente.


O Shopping Mueller tem 35 anos de história em Curitiba e conta com uma equipe de aproximadamente 270 colaboradores, sendo 100% por contratação direta e, muitos destes, trabalham no local desde o início de sua trajetória.

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