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Foxtime: a agência de recursos humanos que empodera refugiadas

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Empresa trabalha com a recolocação de migrantes no mercado de trabalho e oferece coaching para estimular o empreendedorismo das mulheres


Por: Yana Lima


A Foxtime poderia ser só uma agência de recursos humanos na megalópole de São Paulo, mas desde que sua fundadora, Edneia da Fonseca Faioli, deixou a zona rural de Brumadinho, interior de Minas Gerais, essa história começava a ser contada de um jeito diferente. A empresa conta hoje com 300 colaboradores e tem como objetivo conectar profissionais e empregadores. Foi essa expertise que motivou a agência a se engajar à causa do refúgio para auxiliar na inserção ao mercado de trabalho e estimular o empreendedorismo de mulheres refugiadas.


Liderada por Danielle Pieroni, filha de Faiolli, a Foxtime Recursos Humanos é signatária do Pacto Global da ONU desde 2013. Há três anos, ela coordena um grupo de coaches no projeto Empoderando Refugiadas, em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e ONU Mulheres. O trabalho desenvolvido por Pieroni contribuiu para que em 2018, ela fosse escolhida pelo Pacto Global como uma das 10 lideranças mundiais (SDG Pioneers) que tem trabalhado para promover os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030).


A Foxtime foi criada por duas mulheres que foram rejeitadas pelo mercado de trabalho na década de 1990, por conta da idade e outras barreiras impostas às mães. A história das fundadoras é muito parecida com a das mulheres refugiadas. Minha mãe migrou de Minas Gerais para São Paulo sem ter completado o segundo grau e grávida de mim. Por isso, nosso valor está em oferecer oportunidades para as pessoas, independente das barreiras de contratação”, orgulha-se, Pieroni.


O trabalho desenvolvido pela Foxtime no projeto Empoderando Refugiadas vai desde encaminhar candidatas para vagas de emprego a orientações sobre como fazer um currículo, se portar em entrevistas e conviver no ambiente de trabalho. A agência também dá instruções sobre direitos trabalhistas do Brasil, holerite, férias e 13o salário. Oferece ainda sessões de coaching e mentoria para as mulheres refugiadas, a fim de alinhar os objetivos de vida de cada uma e trazer uma nova perspectiva sobre o futuro.

“Começamos com workshops para as refugiadas, porque acreditamos que informação é a base do empoderamento. O recorte feminino veio em parceria com a ONU e porque as mulheres são mais vulneráveis. Os homens se recolocavam no mercado mais rápido. As mulheres chegavam com filhos, sem rede de apoio, outras deixavam os filhos no país de origem e ficavam emocionalmente debilitadas. Por conta disso, nem sempre podem optar por empregos formais e nós estimulamos o empreendedorismo. O projeto visa mais do que empregabilidade, visa empoderamento econômico”, conta.


Além de estimular e facilitar a contratação de refugiados pelos clientes, a Foxtime mostrou que exemplo vem de casa e também abriu as portas da empresa para estas pessoas. Rama Alomari, 33 anos, deixou a Síria após ser atingida por uma bomba que provocou ferimentos graves. Professora de história e geografia na terra natal, Rama está há dois anos no Brasil e foi selecionada para atuar como assistente de secretária na agência de RH.


“Conheci Danielle em uma das reuniões e pedi que me ajudasse. Eu estava muito triste, não tinha dinheiro para nada e não podia sequer comprar as necessidades básicas para os meus filhos. Ela me salvou com essa oportunidade. Meus colegas de trabalho são muito legais, eles me amam muito e eu a eles. Não tenho dificuldades para trabalhar porque minha colega Pamela é minha responsável e me ajuda com tudo. Este trabalho me deu esperança e confiança na vida”, conta Alomari.


Teia de parceiros é fundamental


Para dar força à recolocação de mulheres refugiadas no mercado, a Foxtime foi atrás do que melhor sabe fazer: sensibilizar empresas, engajar novos parceiros e contratantes. Em parceria com o Instituto Lojas Renner, a agência auxiliou na pré-seleção de candidatos para os cursos profissionalizantes da Escola de Costura oferecidos a imigrantes. Após as capacitações, os alunos poderiam concorrer a vagas na rede varejista.


Em 2018, foi a vez do Instituto São José que, convidado pela Foxtime, se uniu à causa com a oferta de um curso de profissionalização para arrumadeiras e camareiras que sairá no papel ainda no primeiro semestre deste ano. Depois de formadas, a agência indicará as candidatas às redes hoteleiras.


“Conversamos com as empresas para que flexibilizem os processos seletivos para refugiados, que deem uma atenção especial para que as barreiras de entrada sejam superadas por essas pessoas. O intuito é que elas consigam pelo menos ser entrevistadas”, explica Pieroni.



Sensibilizar para promover transformação social


Para ampliar a conscientização de como uma pequena empresa pode melhorar a sociedade, a Foxtime assumiu uma missão desafiadora: promover a discussão sobre critérios de seleção de candidatos com as empresas. O intuito da agência é que as vagas fossem sempre preenchidas por capacidade técnica e bons currículos, não por características pessoais, tais como: raça, estado marital ou local de residência, por exemplo.


“O filtro de seleção de recursos humanos de uma empresa pode ser muito cruel. Não posso interferir na decisão dos nossos clientes, mas posso provocar a discussão do motivo para a não contratação de certas pessoas. Qualquer tipo de preconceito é nocivo para a sociedade. Nossa forma de lidar com o problema é oferecer emprego para todos. A constituição diz que somos iguais perante a lei. É um trabalho de formiguinha, mas entendemos que temos um papel social. Oferecemos dignidade”, argumenta a head da agência.



O trabalho de uma SDG Pioneer


A parceria com o projeto Empoderando Refugiadas não foi a única medida adotada pela Foxtime. Danielle reformulou as práticas de negócios da empresa para se alinhar a muitos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com ênfase especial no Objetivo 5 sobre Igualdade de Gênero e Objetivo 8 sobre Trabalho Decente e



Crescimento Econômico.


A agência lançou campanhas internas para ensinar os funcionários sobre a importância da Meta 5. Promoveu palestras sobre violência doméstica contra mulheres. O compromisso com o Objetivo 8 forçou a Foxtime a rejeitar alguns empregadores em potencial que não ofereciam condições de trabalho decentes. Segundo Danielle, foi uma decisão difícil, mas pertinente aos seus princípios. A diretora também dá workshops sobre o assunto em universidades e feiras.

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