18/12/2024 Por Karine Wenzel
A Emflora, especializada em gestão florestal e silvicultura, tem aproximadamente 3 mil colaboradores em oito estados, porém enfrentava a escassez de profissionais. A empresa capixaba encontrou na contratação de pessoas refugiadas e migrantes uma alternativa. A equipe da Emflora visitou abrigos em Boa Vista (RR) e conheceu de perto a Operação Acolhida, que realoca voluntariamente venezuelanos para outros estados através da Estratégia de Interiorização.
Além disso, buscou referências com empresas que já adotavam práticas similares, analisando desafios e oportunidades. Assim nasceu o projeto Raízes Florestais, que emprega atualmente mais de 300 venezuelanos, que correspondem a 10% do quadro de funcionários da Emflora, em uma média de 40 contratações mensais. A Emflora atua com florestas de eucalipto e pinus destinadas à produção de celulose e energia. Além disso, trabalha no cultivo de espécies nativas para recuperar áreas degradadas, preservar reservas florestais e gerar créditos de carbono, contribuindo para a redução das emissões e promovendo práticas sustentáveis.
“O nome Raízes Florestais é porque queremos alguém que venha e permaneça. Investimos em treinamentos e benefícios, pois queremos valorizar essas pessoas e que elas criem raízes aqui. Este projeto é muito importante, porque sentimos que estamos cumprindo parte do nosso propósito de vida. É muito além do trabalho, pois toca nossas almas”, explica Rafaela Generoso, gerente de Gente da Emflora.
A iniciativa teve início em agosto de 2023, no município de Água Clara (MS), com nove contratações. Hoje, funcionários venezuelanos também atuam no Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Para facilitar o processo de seleção, a empresa contratou uma colaboradora venezuelana para atuar diretamente nos abrigos de Boa Vista.
Apoio estrutural e integração
A Emflora oferece alojamentos com infraestrutura completa (incluindo máquina de lavar, televisão e outros itens), alimentação e benefícios como prêmios de produtividade e assiduidade. No caso de famílias, são disponibilizadas casas de passagem por três meses. Para garantir o acolhimento desde o início na contratação, oferece ainda um kit de boas-vindas, com itens de higiene e de necessidades básicas, e apresenta os documentos de admissão traduzidos para o espanhol. Para 2025, planeja traduzir outros materiais, como os de segurança.
“Estamos dando oportunidade para essas pessoas trazerem suas famílias e terem uma vida digna no Brasil. E é bonito ver nos olhos deles o brilho de querer reconstruir suas vidas. Também tem um ganho que é intangível que é o da solidariedade. As pessoas mais solidárias são pessoas mais felizes e produzem mais”, destaca Rafaela, que também aponta que os indicadores de absenteísmo entre trabalhadores venezuelanos são melhores.
Além disso, a Emflora firmou uma parceria com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) para oferecer cursos de português aos funcionários venezuelanos. A empresa ainda utiliza pesquisas de satisfação e ouvidoria nos alojamentos para melhorar continuamente as ações de inclusão.
“Estou muito feliz com essa oportunidade”
O venezuelano Kleivison Blando começou a trabalhar na unidade de Taubaté (SP) em 2024. Apesar da dificuldade inicial com o idioma, sua experiência na área florestal, adquirida em mais de nove anos na Venezuela e no curso de Engenharia Florestal, o levou rapidamente a uma promoção de ajudante para auxiliar de qualidade.
“Eu já tinha conhecimento no trabalho florestal, mas queria aprender mais, porque sou muito curioso. Meu plano para o futuro é voltar a estudar para seguir crescendo e aproveitando todas as oportunidades que a Emflora dá”, conta Kleivison, que vive na cidade com a esposa e os dois filhos pequenos.
Já Erasmo Ramirez não tinha experiência na área, mas aproveitou a oportunidade de ter seu primeiro emprego formal no Brasil. Inicialmente foi contratado como ajudante na Emflora para trabalhar em plantações em Santa Rita do Pardo (MS). Porém compartilhou com os supervisores sua atuação de 30 anos como soldador. A empresa percebeu a oportunidade e a chance de crescimento para Erasmo e ele passou para a função de mecânico mantenedor.
“Foi uma surpresa muito boa quando me disseram que eu poderia trabalhar como soldador, com o que eu já tinha conhecimento. Hoje atuo na manutenção e estou muito feliz com essa oportunidade. É importante que mais empresas deem oportunidades aos venezuelanos. Tem muita gente que sabe e quer trabalhar”, acrescenta.
Comments