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EMDOC: a conexão de empresas, parceiros e refugiados

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Empresa de consultoria imigratória cria projeto social e reúne apoiadores que buscam a inclusão dos refugiados no mercado de trabalho brasileiro


Por: Yana Lima


Seu sonho é sua vida e vida é o trabalho E sem o seu trabalho, o homem não tem honra E sem a sua honra, se morre, se mata Não dá pra ser feliz, não dá pra ser feliz

Um Homem Também Chora - Gonzaguinha


Os versos de Gonzaguinha foram diversas vezes citados por João Marques da Fonseca Neto, sócio-fundador da consultoria especializada em migração, EMDOC. Para ele, o filho do Rei do Baião musicou um dos valores mais importantes para o ser humano: “o restabelecimento da dignidade se dá pelo trabalho”.


A EMDOC foi constituída em 1985 para assessorar empresas nacionais e multinacionais em assuntos migratórios de estrangeiros para o Brasil, transferências de brasileiros para o exterior e relocation (assistência ao expatriado). O objetivo é tornar o processo ágil e eficiente, de acordo com os termos da legislação, e possibilitar que a expatriação seja uma experiência enriquecedora. Há 15 anos a empresa expandiu sua atuação para os Estados Unidos e passou a atender a América Latina.


Em 2011, a EMDOC, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo lançaram de forma singular e inédita um projeto de assessoria para empregabilidade de pessoas em situação de refúgio no Brasil. O Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR) promove a integração deles na sociedade brasileira por meio da inclusão laboral.


“A ideia do PARR surgiu quando fui convidado para uma oficina sobre migração em um evento organizado pelo ACNUR. Lá percebi que os discursos eram muito bonitos e a questão humanitária era importante, mas não havia nenhum projeto empresarial. Falava-se sobre as pessoas que precisavam de ajuda e não sobre como poderíamos ajudar. Naquela mesma noite, desenhei o programa e com o apoio de André Ramirez, então Representante do ACNUR no Brasil, lançamos o PARR pouco tempo depois”, conta o sócio-fundador.



Conexão entre empresas e refugiados


A atuação do PAAR se divide em duas esferas: a sensibilização de empresas e a preparação dos candidatos aos postos de trabalho. A EMDOC realiza a captação de organizações em sua base de clientes, mobiliza parceiros e promove eventos para fomentar novas contratações. Em paralelo, oferece também capacitação cultural para refugiados se adaptarem ao Brasil e ao mercado de trabalho local. 


Atualmente, o PARR conta com 2,4 mil currículos disponíveis e 300 empresas associadas. Em parceria com o projeto Empoderando Refugiadas, fez mais de 800 encaminhamentos e contribuiu para 250 contratações. A EMDOC mantém financeiramente o programa e fornece a assessoria por meio de seus especialistas, que atuam na sede da Cáritas em São Paulo, mais uma apoiadora que abraçou a causa.


“Encontrei no business que deu dignidade à minha vida, a motivação para ajudar outras pessoas a conseguirem trabalho. Meu objetivo é mostrar ao empresário que os refugiados não são incapazes. Ao contrário. Eles têm muito conhecimento e podem trazer benefícios aos negócios”, ressalta Marques. 



Somos todos refugiados


Dados publicados no Guia Nova Lei de Migração, da EMDOC em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global, apontam que no ano de 1900 mais de um milhão de pessoas ou 6,3% da população residente no país eram estrangeiros. Em 1920, em decorrência da Primeira Guerra Mundial, esse número aumentou para 1,6 milhão. Já em 2015, de 205 milhões de pessoas, apenas 900 mil eram estrangeiros ou 0,4%. O percentual decrescente colocou o Brasil no rol de nações mentalmente fechadas, segundo o estudo. O país precisaria ter cinco vezes mais migrantes para alcançar a média latinoamericana, 10 vezes mais para alcançar a média mundial e 50 vezes mais para igualar à média da América do Norte e Oceania.


Ainda assim, é difícil um brasileiro que não tenha descendência de migrantes. Povos de todo o globo buscaram refúgio de guerra no Brasil: africanos, europeus, asiáticos, árabes, sul-americanos. 


“Já adulto, descobri que minha avó adotiva era refugiada. Com o meu trabalho, devolvi para a sociedade o que a sociedade deu para minha própria origem. Minhas raízes passam pelo refúgio, assim como a de diversos empresários brasileiros”, relembra. 



Refugiados e o desenvolvimento do mercado brasileiro


Para Marques, a interculturalidade é a chance de desenvolver uma nação. Ele explica que em seu trabalho de sensibilização de empresas, ele costuma reforçar que muitos empreendedores bem-sucedidos têm origem no refúgio e grandes empresas nacionais foram criadas por imigrantes: Casas Bahia, Klabin, Pernambucanas, Grupo Sílvio Santos entre outros.


“Não acolher um refugiado é tirar a possibilidade de emprego dos nossos filhos no futuro. Não há plano de governo para inserção dessa população no mercado. Estamos falando de vida, empregabilidade e novas oportunidades. O Brasil precisa de culturas diferenciadas para disseminar novos métodos e novas ideias. A vinda dessas pessoas é um ganho.” 


Além do auxílio prestado à causa, a EMDOC também emprega refugiados. No quadro de funcionários, já contaram com uma professora de inglês, um analista do setor financeiro e uma estagiária paquistanesa que atualmente trabalha na consultoria.

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