Braço social da marca de eletrodomésticos da Whirlpool ajuda refugiadas a saírem da informalidade com acompanhamento e profissionalização de seus negócios
Por: Yana Lima
No ano de 2016, o Consulado da Mulher abriu as portas às refugiadas. A ação social da Consul, empresa de eletrodomésticos da Whirlpool Corporation no Brasil, tem como missão de empoderar mulheres por meio de conhecimento profissional. O projeto vem sendo desenvolvido há 17 anos e oferece capacitação e assessoria para estimular o empreendedorismo feminino.
“Participamos do Empoderando Refugiadas [projeto da ONU Brasil em São Paulo] e fizemos uma capacitação dentro da Whirpool, em parceria com o Sebrae e o Facebook. Trabalhamos com empreendedorismo e geração de renda com mulheres em vulnerabilidade social”, contou Erica Sacchi Zanotti, gerente de programas sociais do Consulado da Mulher.
Em 2017, a mesma atividade se repetiu na sede paulistana de outra empresa e, nesta edição, destacou-se um pequeno grupo de cinco empreendedoras sírias que queriam profissionalizar seus negócios. Surgia a primeira turma de refugiadas do Consulado da Mulher. Por seis meses, os consultores e educadores do projeto ofereceram acompanhamento e oficinas sobre controle de caixa, precificação, divulgação, embalagens, vendas e as demais nuances de um negócio no Brasil.
“Elas [as refugiadas] têm uma carência muito grande de entender como as coisas funcionam no Brasil. Muitas delas já faziam alguma coisa. As sírias, por exemplo, cozinhavam, mas tinham muita dificuldade em se comunicar em português, em se organizar para participar de feiras. Nós ajudamos a guiar o caminho de empreender”, explica Erica.
No ano seguinte, o Consulado da Mulher, em parceria com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), participou da Virada Cultural da cidade de Manaus com oficinas. Mais de vinte refugiadas estiveram nos workshops e cinco venezuelanas foram selecionadas para se profissionalizarem. Além das orientações, a Consul também oferece pequenos investimentos, como eletrodomésticos e materiais, às empreendedoras, como forma de incentivo.
“Queremos empoderar economicamente as mães de famílias, donas de casa, que perderam emprego e mulheres jovens de comunidades. Nosso trabalho é para aquelas mulheres que nem entendem ainda que o que fazem é um negócio”, conclui a gerente.
Signatária do Pacto Global da ONU, a Whirlpool já impactou mais de 35 mil pessoas direta e indiretamente por meio das atividades desenvolvidas pelo Consulado da Mulher. Dez negócios de mulheres refugiadas já foram profissionalizados com a orientação da equipe pedagógica e a metodologia de gestão de empreendimentos populares, desenvolvida em parceria com alunos da empresa júnior da Fundação Getúlio Vargas.
As mulheres do Consulado
A síria Salsabil Matouk está no Brasil há quatro anos. É farmacêutica por formação, mas atualmente trabalha com culinária árabe em São Paulo. Ela relembra como conheceu o Consulado da Mulher e se envolveu com o projeto.
“Quando comecei com o trabalho de cozinha árabe, eu não estava sabendo fazer o orçamento. Não sabia como começar. O Consulado da Mulher me ajudou a dar valores ao meu produto, criar uma marca, elaborar cardápio, cuidar da limpeza. No final do curso eu ganhei um freezer e um fogão. Foi uma experiência maravilhosa. Eu fiz grandes amigos. Cresci muito com essa ajuda. Já fiz dois eventos com o Consulado, consegui muita experiência na área de culinária. Eles me ensinaram como montar uma comida linda. Foram a melhor força no meu caminho.”
No estado do Amazonas, Judith Josefina Oberto de Castillho, venezuelana de 58 anos, também encontrou no Consulado da Mulher o apoio para impulsionar o novo negócio. Ela e o esposo eram bancários há mais de 20 anos. Com a crescente crise na Venezuela, tiveram de vender seus bens e refugiaram-se em Manaus. Ela relata a dificuldade dos primeiros meses e conta que nunca imaginou que precisariam emigrar.
“A primeira coisa que fiz aqui foi sair para vender café com meu esposo. Mas na rua, tudo que me diziam era “não, muito obrigado”. Eu voltava para casa chorando. Depois comecei a vender doces e me especializei em bolo de pote. Alguém me falou do Cáritas e no dia que procurei por eles, conheci o Consulado da Mulher. Fiz 14 oficinas, uma vez por semana e ali ensinaram de verdade como estabelecer nossos negócios no Brasil. Aprendemos sobre caixa, metas, compras, economia de produção para que pudéssemos comprar novos utensílios. Ensinaram a reduzir custos, onde vender. Foi algo muito especial. Essa gente do Consulado da Mulher é maravilhosa, não me canso de dizer isso sempre. Amo a todos.”
Há oito meses no Brasil, Judith comemora que dezembro de 2018 foi um grande mês para o casal, pois conseguiram trazer filhos e netos que ainda estavam na Venezuela para viver em Manaus. E junto dessa conquista, foram surpreendidos também por um investimento no negócio.
“Quando comecei a fazer meus doces, tinha um forninho elétrico bem pequeno. Uma vizinha me emprestava para me ajudar a assar os bolos. Para minha surpresa, em dezembro, no último dia de oficinas, as pessoas do Consulado nos deram de presente alguns utensílios, mantimentos e tudo o que nos fazia falta. Já comprei minha cozinha nova, pela qual estou apaixonada e agora sim posso fazer o que quiser. Emigrar foi muito duro, mas aqui estamos, tratando de levantar-nos honestamente, sem prejudicar ninguém, e acima de tudo, honrando este país e sua gente maravilhosa que nos abriu os braços.”
Premiação de Empreendedorismo Feminino
Outra iniciativa do instituto é o Prêmio Consulado da Mulher de Empreendedorismo Feminino. Em sua sétima edição no ano de 2019, a iniciativa reconhece e apoia negócios que surgiram a partir da necessidade de geração de renda da mulher para dar um futuro melhor às suas famílias.
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