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Sodexo: de empregadora à referência em inclusão de refugiados

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Com DNA globalizado, empresa iniciou o processo de contratação de refugiados de forma espontânea no Brasil e hoje emprega mais de 92 pessoas


Por: Yana Lima

O sotaque das primeiras palavras entregava que Lilian Rauld, Head de Diversidade e Inclusão da Sodexo, não tem o português como idioma nativo. Logo no começo da conversa ela revela que a origem é chilena e que adotou o Brasil como lar há cinco anos. Além de ocupar um cargo com um título de vanguarda no corporativismo, ela é Mestre em Gestão Estratégica e Econômica de Recursos Humanos pela Fundação Getúlio Vargas e desenvolveu seus estudos sobre a inserção de refugiados no mercado laboral. Mulher e imigrante, Rauld era a pessoa certa para contar sobre o trabalho da Sodexo com refugiados no Brasil.


Fundada por Pierre Bellon, em 1966, na cidade de Marselha, França, a Sodexo oferece serviços de alimentação. É a 18a maior empregadora mundial, com 460 mil colaboradores, em 72 países. No Brasil, são mais de 40 mil trabalhadores em cem profissões diferentes, alocados em 2.100 unidades de negócios.


Desde 2010, a Sodexo On-site Brasil contrata refugiados. As primeiras contratações aconteceram espontaneamente, sem que a empresa tivesse um plano de atuação ou estratégia de diversidade. “Nossas vagas estão abertas para o público geral, independente da nacionalidade. Não há diferenciação. Os refugiados têm os mesmos direitos e deveres de qualquer pessoa e possuem os mesmos documentos dos brasileiros.” Segundo Rauld, este tipo de contratação já acontecia nas sedes europeias da Sodexo, entretanto no Brasil o processo era novo e foi absorvido pela empresa organicamente.


Em 2015 ficamos sabendo do Empoderando Refugiadas. Quando ouvimos falar do programa, percebemos que já fazíamos isso na Sodexo. Fomos os primeiros parceiros da iniciativa.” Rauld contou que o programa desenvolvido pela Rede Brasil do Pacto Global, pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e pela ONU Mulheres, foi a inspiração para formalizar a política de inclusão de refugiados, que já acontecia na prática. Atualmente, a empresa trabalha também com outras quatro linhas no tema da diversidade: orientação sexual, gênero, gerações e pessoas com deficiência.


Atualmente, 92 refugiados fazem parte do quadro de funcionários da Sodexo. Sylvie Mutiene é advogada e há cinco anos deixou a República Democrática do Congo juntamente com os filhos. O esposo, filiado ao partido de oposição, foi preso por perseguição política. Em um dos encontros do programa Empoderando Refugiadas, Sylvie conheceu a Sodexo e aplicou para uma oportunidade de trabalho na empresa. Atualmente ela é recepcionista bilíngue.


“Fui muito bem recebida aqui na Sodexo. No começo tive dificuldades, porque falo português com sotaque francês. Mas logo fiquei amiga de todos na empresa e cada um me ajudava de alguma forma. Esse trabalho mudou muita coisa na minha vida. Minha situação financeira melhorou, tenho mais conhecimento, mais experiência na área e agora sei como funcionam as coisas em grandes empresas no Brasil”, comemora Sylvie.


Para facilitar a adaptação destas pessoas, a empresa criou dois manuais diferentes: um para gestores e outro direcionado aos recém-contratados. “Para a empresa, explicamos a diferença entre imigrantes e refugiados, contextualizamos o motivo de buscarem outro país e como replicar estes conhecimentos às equipes de trabalho. Já o manual para o refugiado explica sobre a cultura do Brasil e esclarece uma das principais dúvidas: o holerite. Tudo isso para dar suporte a ambas as partes.”


Entre os inúmeros aspectos positivos da contratação de refugiados, Rauld destaca o comprometimento deles com o trabalho e o reflexo que este comportamento produz no restante da equipe. “Eles são cultos, educados, falam mais de um idioma e por estarem felizes e agradecidos com a oportunidade de recomeçar suas vidas, contagiam os demais. São muito pontuais. São exemplo e inspiração para outros funcionários”.


A empresa ganha também em inovação. Os refugiados costumam trazer novas ideias para seus locais de trabalho. “No começo de 2019, tivemos um Festival Gastronômico na sede de um dos nossos clientes e os refugiados prepararam tudo. Iniciativas assim despertam o sentido de pertencer. Sentimos que com estas trocas, aumenta-se o engajamento dos colaboradores. Entre as comunidades e o público, passamos a ser uma empresa referência na preocupação com a diversidade. É uma experiência fantástica”.


Quando questionada sobre o maior desafio da Sodexo em relação à contratação de refugiados, Rauld explica que ainda é o (des)conhecimento e que não se pode parar nunca de informar, explicar e comunicar sobre o tema. “Temos que fazer isso todos os dias. Criamos e alimentamos o hábito de falar, falar e falar sobre isso todo tempo. Sempre que chegam novos refugiados na empresa, precisamos reforçar ainda mais o assunto, para que todos compreendam. Desmistificamos o tema e cultivamos respeito”.

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