Projeto Novos Caminhos, feito em parceria com Instituto Aromeiazero, forma 11 pessoas da Venezuela para atuar no ramo de bicicletas
Por: Yana Lima
Em abril de 2019, a empresa de bicicletas compartilhadas Tembici criou o projeto Novos Caminhos, que ofereceu capacitação em mecânica para mulheres e homens venezuelanos em situação de refúgio no Brasil. A turma piloto formou 11 alunos, que puderam concorrer a vagas de trabalho na companhia. Três foram imediatamente contratados. Atualmente, a empresa conta com outros seis refugiados venezuelanos e um congolês - empregados pela modalidade CLT.
“A ideia do projeto foi dar o conhecimento e as ferramentas para que as pessoas pudessem trilhar seus caminhos. Com esse aprendizado, eles podem trabalhar conosco ou em outros locais”, destaca Carolina Rivas, diretora de relacionamento da Tembici.
Como funciona o projeto Novos Caminhos
A equipe de relações governamentais da Tembici entrou em contato com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), que auxiliou na seleção dos participantes. Os selecionados haviam chegado a São Paulo por meio do processo de interiorização da Operação Acolhida – um dos pilares de resposta federal ao fluxo de venezuelanos que chegam ao país e que conta com o apoio do ACNUR e outras agências da ONU.
A turma piloto do projeto contou com profissionais de diferentes áreas, como mecânicos de petróleo, técnica de alimentação, radialista e etc. Gustavo Moncada foi professor universitário na Venezuela e veio para o Brasil por conta do agravamento da crise econômica e social no país de origem. Ele participou da formação da Tembici e hoje trabalha como auxiliar logístico na empresa. Confira o depoimento de Moncada.
Para estruturar um curso completo de capacitação para os refugiados, a Tembici contou com o apoio metodológico do Instituto Aromeiazero, cuja a missão é promover a bicicleta, como transporte, expressão artística, trabalho, lazer, esporte e ferramenta de mudança social.
O curso teve a duração de 32 horas, divididas em encontros de quatro horas diárias durante duas semanas. Ocorreu no espaço Clube da Comunidade Arena Radical, na Vila Olímpia, em São Paulo. Os alunos aprenderam sobre mecânica, reforma e reparos básicos em bicicleta, segurança no trânsito, mobilidade na cidade e geração de renda. Tiveram oficinas práticas e a oportunidade de conversar com profissionais do ramo.
“Foi muito legal a experiência do curso com refugiados venezuelanos, tivemos bons feedbacks. Muitos deles nunca tinham pensado na bicicleta das formas como a apresentamos. Segundo eles, lá na Venezuela, não fazia sentido usar bicicletas porque a gasolina era muito barata”, conta Murilo Casagrande, diretor de desenvolvimento institucional da Aromeiazero.
A metodologia do projeto Novos Caminhos foi inspirada em uma ação desenvolvida desde 2007 pelo Instituto Aromeiazero chamada Viver de Bike. As aulas foram ministradas pela professora Viola Selerino, que ensinou a parte técnica de mecânica, e Luis Birigui, que falou sobre empreendedorismo social.
“O Viver de Bike já formou mais de 200 pessoas [entre brasileiros e refugiados]. Os principais educadores deste piloto já eram do Viver de Bike. Ter a Viola conosco dando aulas de mecânica é uma quebra de paradigma porque ainda é um meio muito machista. Buscamos sempre ter equidade de gênero entre os participantes”, reforça Murilo.
Além das aulas, o projeto ofereceu aos participantes um passeio de bicicleta pelos pontos turísticos do Centro de São Paulo, de forma a apresentar a cidade aos moradores que a adotaram para reconstruir a jornada de vida. Na conclusão do curso, cada aluno ganhou uma maleta de ferramentas básicas para execução do trabalho. Elianete Ramos é auxiliar logística na empresa. Confira seu depoimento.
O projeto Novos Caminhos virou tema do minidocumentário “Bicicleta faz refugiados se
sentirem em casa” feito pela jornalista Renata Falzoni e vencedor do Prêmio Abraciclo de Jornalismo 2019. O projeto também foi selecionado para ser apresentado no Velo-city, fórum mundial de bicicletas organizado pela Federação Europeia de Ciclistas, previsto para ocorrer na Eslovênia este ano. Assista ao minidoc completo.
Bicicletas em período de isolamento social
Passado um ano do lançamento do projeto Novos Caminhos, a empresa que aposta na mobilidade sustentável está diante do desafio de um mundo em isolamento social por conta da pandemia de Covid-19. O negócio da Tembici está estruturado em dois setores principais: corporativo e operações. Os refugiados trabalham nas áreas de manutenção mecânica portanto, fazem parte do quadro de operação. Para garantir que as operações logísticas e a higiene correta dos equipamentos sejam feitas, a empresa adotou o sistema de rodízio entre funcionários, exceto o setor corporativo que segue home office.
“Tem sido um desafio se posicionar, sendo uma empresa de mobilidade, num período em que as pessoas precisam ficar em casa. Cidades do exterior que estão saindo do isolamento estão se preparando para uma mudança de hábito pós-pandemia. Entendemos que muita gente vai usar a bicicleta, porque é um transporte individual e sustentável. Milão, por exemplo, tem diversas iniciativas para que o retorno à “vida normal” seja com a utilização de bicicletas e para isso estão fazendo alargamento de calçadas, ciclovias. O número de ciclistas pode aumentar muito”, explica Rivas.
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