top of page

Fábrica de móveis contrata refugiados no interior de Minas Gerais

Atualizado: 24 de mar. de 2021

Líder Interiores oferece capacitação e oportunidade de trabalho e, com apoio da população, fomenta em Carmo do Cajuru a primeira comunidade de venezuelanos


Por: Yana Lima

Trabalhadores venezuelanos na fábrica da Líder Interiores

A novidade correu rápido entre os moradores da pacata cidade mineira de Carmo do Cajuru. O município de pouco mais de vinte mil habitantes (IBGE, 2010) recebeu, em fevereiro de 2019, novos moradores venezuelanos para trabalhar na fábrica de móveis Líder Interiores.


Com o apoio do Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) de Belo Horizonte, a empresa selecionou cinco pessoas que chegaram à capital de Minas Gerais por meio da estratégia de interiorização da Operação Acolhida – resposta humanitária a refugiados e migrantes venezuelanos liderada pelo governo brasileiro e apoiada por agências da ONU, setor privado e organizações da sociedade civil. Até agora, cerca de 500 venezuelanos já foram interiorizados para Minas Gerais, em 17 cidades diferentes.


A Líder Interiores é uma empresa originalmente familiar e conta com quase 1,4 mil colaboradores. A trajetória de desenvolvimento da empresa acompanha a evolução da cidade, ambas com mais de sete décadas de existência. Durante 74 anos, a Líder tem criado projetos sociais para melhoria de sua comunidade. De acordo com a gerente de recursos humanos, Luana Batista, a ideia de se trabalhar com refugiados partiu de uma sugestão espontânea do diretor comercial da empresa, Aurélio Nogueira.


“A Líder já desenvolve alguns projetos sociais com crianças, idosos e adictos. O nosso diretor Aurélio estava buscando referências de iniciativas fora e conseguimos, por meio de uma pesquisadora que presta serviços para a empresa, o contato do Serviço Jesuíta. A equipe da instituição nos avisou sobre o primeiro avião das Forças Aéreas que trazia refugiados venezuelanos para Minas Gerais. Eles mandaram os currículos e iniciamos o processo”, conta Luana.


Carmo do Cajuru fica a 115km de Belo Horizonte. Para conhecer os candidatos selecionados, a equipe de RH da Líder foi até a capital e os convidou para visitar a cidade e a fábrica.


“O início foi muito desafiador. Eles estavam com medo de exploração, de serem separados uns dos outros. Então, convidamos para passarem um dia na empresa. Foram buscados em Belo Horizonte, almoçaram, conheceram a fábrica. Colocamos eles em contato com outros funcionários e trouxemos para uma segunda visita para fazerem testes nas áreas de marcenaria, solda e lixa. Nossos supervisores gostaram muito de todos”, explica a gerente.


A etapa seguinte foi organizar a documentação e contratação. A empresa contou mais uma vez com o auxílio do Serviço Jesuíta, que atua desde 2013 na reinserção social e laboral de migrantes, solicitantes de refúgio e refugiados no Brasil. Desde fevereiro, a instituição já recebeu 107 venezuelanos em Belo Horizonte e tem auxiliado com casa de acolhida, alimentação, assessoria jurídica, assistência social e capacitação em língua e cultura.


“A parceria que desenvolvemos com a Líder foi bacana porque antes de contratar, a empresa deu a oportunidade deles [os refugiados] conhecerem a fábrica e a cidade. Eles foram muito bem recebidos. A Líder também organizou algumas ações para que eles pudessem socializar com os funcionários e as pessoas locais”, destaca Nathália Aparecida Soares de Oliveira, analista social da área de Meios de Vida do SJMR.


Os cinco candidatos selecionados foram contratados de acordo com as normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A Líder garantiu moradia, luz, água e custeio de alimentação por 90 dias para os funcionários. Assim como desenvolve o programa de ensino de Libras, a empresa passou a oferecer aulas de português uma hora por semana para que os venezuelanos pudessem aprimorar o domínio do idioma.


Uma Carmo do Cajuru que fala “portunhol”


Três funcionários já conseguiram trazer suas famílias, que formaram a primeira comunidade venezuelana em Carmo do Cajuru. O jeitinho hospitaleiro dos mineiros se estendeu aos novos vizinhos. Além da boa recepção na fábrica, os refugiados também foram acolhidos pela comunidade local. A prefeitura facilitou o ingresso das crianças na escola, a população mobilizou doações de roupas, mantimentos e produtos de higiene.

Em maio, na Festa do Trabalhador da Líder, foi organizado o Movimento Venezuelano e eles tiveram a oportunidade de preparar pratos típicos de sua cultura para compartilhar com os cajuruenses. Segundo Luana, os colaboradores se envolveram de forma positiva com as contratações.


“Tinha receio de ataques como ‘vocês estão dando vaga para venezuelano e não vão contratar pessoas da cidade’, mas a população entendeu bem. Eles [os refugiados] são caprichosos e talentosos. Muita gente aqui assiste a novela da Rede Globo [Órfãos da Terra] e tem entendido essa realidade. A mídia tem focado muito na Venezuela e tem sensibilizado sobre as condições do país. Nós buscamos reforçar o companheirismo, que é um valor da empresa. Percebemos que quando trazemos pessoas diferentes, elas trocam informações e ficam mais solidárias”, conclui a gerente de RH.


Foco no desenvolvimento local


A Líder Interiores foi fundada por João da Mata em 1945. Começou com um galpão e três máquinas. Com o crescimento das instalações, veio o primeiro showroom, a primeira loja Mobiliadora Líder, e depois de várias ampliações no parque industrial, a empresa expandiu para outros estados do Brasil, tornando-se um grupo sólido do setor moveleiro nacional.


As ações de sustentabilidade da Líder se estendem também ao meio ambiente. A madeira utilizada no processo de produção tem Selo Verde, que garante sua procedência de áreas de reflorestamento. A empresa mantém o Projeto Esportes, estendido a crianças e adolescentes de 7 a 17 anos, e a Escolinha Líder, que atende os filhos dos funcionários de quatro meses a cinco anos, desenvolvendo atividades lúdicas e pedagógicas.

Comments


bottom of page